sexta-feira, 5 de junho de 2009

Isso é CINEMA






Cinema no GESTAR II





























"O povo aumenta mas não inventa"







Rodado entre junho e setembro de 2001 em Gameleira da Lapa, cidade do interior da Bahia, “Narradores de Javé” conta a história de um povoado que, ao ver a iminência de ter seu vilarejo inundado pelas águas de uma represa, vê como único modo de impedir o acontecimento na transformação do local em um patrimônio da humanidade. Para isso os moradores decidem passar para o papel todas as lendas sobre a origem de Javé, e assim chamam o escrivão local Antônio Biá para escrever um livro sobre o vilarejo.











Acontece que Biá tinha sido banido de Javé pela população por ter difamado praticamente toda esta através de cartas que ajudaram a salvar seu emprego nos Correios locais. Mas no desespero a população acaba dando esta oportunidade do escrivão se redimir. A partir daí, Biá passa a ir de casa em casa na região para passar para o papel as lendas guardadas nas cabeças dos moradores de Javé. O único problema é que cada morador conta uma história diferente, e sempre defendendo os interesses de seus antepassados.O filme é brilhante, ganhou os prêmios principais nos Festivais do Rio e de Recife, onde em ambos o trabalho, não menos magnífico, de José Dumont foi premiado.












Dumont é a alma do longa, onde pode treinar toda sua capacidade de improvisação. Praticamente todas as marcantes falas de Biá, como “piaba de silicone”, “tapioca de exu”, “manicure de lacraia”, “pokemon de Jesus”, “omelete de cupim”, “desinteria de tinta”, “um dilúvio bovino”, “clonado de miolo de pão”, entre outras, foram criadas pelo próprio ator.












Este é o segundo trabalho de Zé Dumont como a diretora Eliane Caffé, o primeiro foi em “Kenoma” (1998). O longa conta ainda com as presenças de Matheus Nachtergaele (“Cidade de Deus”), Nelson Dantas (“O que É Isso, Companheiro?”), Gero Camilo (“Carandiru”) e Nélson Xavier (“Benjamin”), que só ajudam à abrilhantar mais “Narradores de Javé”.












Ao mostrar o confronto entre o progresso e as tradições de um lugarejo, o filme ainda se preocupa em citar o problema das terras em nosso país, onde os primeiros habitantes demarcavam, por si mesmos, a extensão de suas propriedades. Resumindo, o filme é imperdível, e boa parte disso é por causa de José Dumont que, bairrismos à parte, merecia um Oscar por sua interpretação.












Comentários de Lucas Salgado.




" Os comentários de Lucas sobre Narradores de Javé são realmente dignos de elogios, e, retratam perfeitamente a maravilha que é esse filme. O vimos no GESTAR II, e, com direito a balas, distribuídas pela Professora Lenita, pois era impossível uma pipoquinha alí naquele momento. Foi um momento não só de descontração, entretenimento, todavia de discussão, de socialização não somente sobre o enredo do filme, sua trama, seu desfecho, mas também sobre a necessidade e a importância da escrita, do registro, mesmo no mundo atual de desafios através da máquina moderna chamada computador onde as informação encontram-se prontas para serem entregues e nossos jovens estudantes misturam a norma culta da nossa língua que precisa ser dominada, e , aplicada adequadamente no exercício da escrita com as novas linguagens e formas de escritas que surgem junto a essa modernidade. E usufruindo um pouco dessa facilidade, claro que com cuidado, veja o que encontrei ainda sobre esse tema. Vale a pena ler. Ah, a primeira foto é do Município de São Rafael, inundado pelas águas da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves. Ao assistir ao filme lembrei um pouco da antiga São Rafael."


A escrita em tempos de novas tecnologias da comunicação


Contar histórias é uma tradição de todos os povos, dos mais primitivos aos mais sofisticados. Com essas histórias evoca-se lembranças, exercita-se e revitaliza-se a memória pessoal e, principalmente, a coletiva. A diferença entre os povos primitivos e sofisticados não é a importância e o prazer de contar e narrar histórias, mas o seu registro. Os grandes poetas épicos como: Horácio, Virgílio, Camões, entre outros, tinham a função de coletar essas histórias e registrá-las para preservar a memória e o período histórico de seu povo e nação.

O homem sempre contou histórias, antes mesmo de poder escrevê-las, porém o confronto entre a cultura oral e a cultura da escrita também sempre aconteceu, principalmente, devido à visão preconceituosa da sociedade com práticas de escrita, desde a época da colonização, toda a produção cultural dos povos ameríndios e posteriormente africanos foram desprezadas. Em uma rápida passada pela história da humanidade, percebemos a importância do registro escrito, na história de um povo e nas relações entre povos. Antes mesmo da colonização americana pelos europeus, aconteceu o domínio dos povos bárbaros pelos gregos e romanos, e só temos acesso a essas histórias por meio dos registros escritos pelos conquistadores, que eram os povos com práticas de escrita, porém pouco se sabe sobre os derrotados que tinham pouco ou nenhum registro de sua história, cultura e sociedade.

Em sociedades predominantemente orais, sem a prática de escrita, não há a necessidade de memorização integral, exata, porque com a memória oral tem-se maior movimento, liberdade e mais possibilidades criativas para transmitir a tradição cultural e histórica, pois a oralidade permite uma releitura e um refazer constante do passado ao ponto de não separá-lo do presente.

A memória individual e coletiva perpassa pelas histórias orais, que também podem ser produzidas no campo do poder, a partir de interesses pessoais e familiares. O filme de 2003, dirigido por Eliane Caffé, Narradores de Javé, nos mostra isso: Na possibilidade de ser submerso o pequeno vilarejo de Javé pelas águas de uma represa os seus moradores se organizam para tentar salvá-lo. A salvação seria construir, já que não tinham, um patrimônio histórico, que são as narrativas orais de cada morador a respeito das origens históricas do vilarejo, porém ao tentar registrar essas histórias, o escriba Antonio Biá, vivido por José Dummont, se vê incapaz de tal tarefa, porque cada morador conta a história mítica do vilarejo segundo sua ótica, levando em consideração seus interesses, valorizando ou omitindo passagens de seus ancestrais, ou até mesmo levantando questões de legitimidade de heranças familiares. A relação do poder nos relatos orais dá-se não só por meio dos interesses, mas também em outras esferas, como por exemplo: As pessoas mais velhas querem para si o papel de guardiões da memória e história do vilarejo, outro fato importante é a seleção a partir de anseios pessoais ou coletivos de fatos que podem ou devem ser lembrados ou esquecidos.A escrita é a linguagem do poder, é a linguagem da lei, isso também nos mostra o filme, já citado, Narradores de Javé, com a inundação do vilarejo, apenas os moradores que tinham a escritura - registro escrito de posse - de suas terras seriam indenizados, contudo nenhum morador a tinha, pois os limites de terras eram feitos por meio das divisas cantadas, ou seja, o morador recitava os limites de seu território e esses limites eram respeitados, até então não havia necessidade de uma escritura – ou um registro formal – para outorgar a posse da terra.Assim como os limites da terra, a memória tem que ser registrada, porque o registro torna a memória histórica rígida, inflexível, imutável, mas não podendo modificar o passado, o povo acaba por distanciar-se desse passado, não se vê como um agente produtor e colaborador de sua história.Na sociedade moderna o discurso oral tem que ser legitimado pelo registro escrito, essa legitimação dá-se não só pela legalidade do escrito, mas também pelo embelezamento e enriquecimento estético do fato: “(...) Uma coisa é o fato acontecido, outra coisa é o fato escrito, o acontecido tem que ser melhorado no escrito (...) para que o povo cria no acontecido” - palavras de Antonio Biá o escriba do vilarejo de Javé, e em outras falas de Biá: “O curvo vira corcunda”, “A história é de vocês, mas a escrita é minha”, “História muito ouvida e contada, mas nunca lida e escrita”. A supremacia da cultura escrita sobre a cultura oral dá-se pelo registro escrito, então a história de um povo ou limites de terras que não são registradas é como se não existissem.O registro traz mudanças significativas no seu destinatário como se pode observar no depoimento da moradora de Gameleira, cidade onde foi rodado o filme Narradores de Javé, “O lixo fazia parte do nosso dia-a-dia como se fosse um vizinho e não nos incomodava, quando chegou o pessoal do filme que promoveu essa limpeza (da cidade) (...), abriu uma cortina, abriu nossa visão e fez com que percebêssemos como é importante viver em um ambiente limpo”.O contrário também se faz presente, a falta do registro traz mudanças também significativas, nem sempre para melhor. Em depoimento Maura Maria Lopes, poetisa da Zona Norte de São Paulo, se lamenta por não saber escrever e pensa que se soubesse poderia ter uma vida melhor, poderia apresentar seus poemas em programas de televisão.Os dias atuais trouxeram mudanças nas tecnologias da escrita para o homem moderno contar suas histórias e registrar suas terras, e o principal deles é o suporte.O suporte da escrita moderna não é mais o papel, o códice - evolução da pedra, da argila, do papiro -, é a tela do computador e o chamado ciberespaço. Hoje, os textos não são táteis, físicos e estagnados. O computador, e principalmente a internet, traz uma nova forma de relacionamento com o texto, o hipertexto, é o texto em formato digital que agrega outras informações como outros textos, imagens ou sons, acessados por meio de palavras ou termos específicos denominados links. Diferente do papel, o qual era mensurável, palpável, era possível se marcar o início e o fim de um texto por meio de páginas numeradas, da posição, da ordem, o hipertexto é dinâmico, cabe o leitor escolher seu início e fim, o leitor pode contribuir com os textos no ato da leitura, definindo sua estrutura e seu sentido.

O hipertexto traz de volta características da cultura do texto manuscrito e, sobretudo da cultura oral, pode-se interferir, acrescentar, alterar, é um texto efêmero, transitório e pouco controlado, exatamente como visto no filme.

Muitas são as vantagens do hipertexto, por ser multilinear e de multi-seqüência trazem multiplicidade de possibilidades, de tamanho, é um texto mutável, variável, com um clique em link, - uma palavra-chave - abre-se uma outra palavra, ou um outro termo, ou um outro parágrafo e até mesmo um outro texto e assim sucessivamente. O hipertexto é semelhante aos processos cognitivos, com isso aproxima o ser humano aos seus esquemas mentais, por associações em rede.

Contudo, todas essas vantagens do hipertexto não estão ao alcance de todos, pessoas analfabetas e iletradas, ou até mesmo pessoas alfabetizadas e letradas que ainda não conseguem operar um computador, ou qualquer outro aparelho tecnológico. Em seu depoimento, Dona Maura disse ter usado apenas uma vez o computador, disse reconhecer as letras no teclado, mas não consegue gravar seus textos, nem mesmo o aparelho de telefone ela consegue operar, apesar de memorizar os números que necessita.

Conclui-se que o mesmo confronto entre o mundo oral e o mundo escrito, surge novamente com outra roupagem, o confronto entre o mundo digital e o mundo não-digital, porém a escrita, seja ela digital ou não, e a oralidade são indissociáveis, como já afirmado, os poetas épicos registraram as histórias conhecidas e contadas pelo povo e pela escrita elas ganharam contornos, correção e precisão para resistirem e existirem até hoje. Talvez em alguns anos, as histórias que o mundo terá acesso serão aquelas que foram digitadas, serão as histórias das sociedades tecnologicamente sofisticadas, enquanto as outras histórias restaram apenas na oralidade do povo até serem inundadas com as águas da tecnologia.
Fabiano Fernandes Garcez




A Importância Da Leitura No Desenvolvimento Do Indivíduo (Rui Arts)


Na visão, histórica-crítica a educação ocorre no âmbito das inter-relações do indivíduo com seu grupo social, culturalmente estruturado. Pela necessidade de relacionar-se e comunicar-se, o homem produz a linguagem, superando os seus próprios limites. Assim, desenvolvendo as capacidades de generalização e abstração do mundo a sua volta. A linguagem permite ao homem codificar e decodificar. Essa capacidade de representação dos objetos em signos e decodifica-los faz com que ele supere sua consciência sensível e passe para a consciência racional. Tudo esse desenvolvimento se dar por meio do trabalho constante no decorrer da sua vida.

Segundo Luria (1988), a função primária da linguagem muda à medida que aumenta a experiência educacional da pessoa?. A linguagem pode ser verbal e não-verbal e a escrita é o seu produto mais desenvolvido, pois não conta com quase nenhum elemento verbal (gestos, mímica etc.). A aquisição da escrita não é um produto puramente escolar, mas um longo processo de apropriação e construção por parte da criança. A leitura é uma atividade ligada à escrita, tendo como objetivo primordial sua compreensão. Ler não é apenas decodificar, é também atribuir sentido ao texto, é compreender, interpretar e saber fazer relações com a vida. Sendo a leitura muito importante e imprescindível na vida de uma pessoa é necessário o acesso a esse universo.

Cabe aos educadores oportunizar diferentes leituras aos alunos e assim, estabelecer uma ampla rede de relações de indivíduos que buscam no universo da leitura o gosto, o aprendizado e a formação de cidadãos críticos, reflexivos e atuantes. É imprescindível que, criem diferentes oportunidades para levar aos seus alunos a ler. Tarefa não muito fácil, mas estudos mostram que é possível explorar esse universo e torna-la atrativa nas escolas com diferentes textos que usamos no dia-a-dia.

MODALIDADES DE LEITURA:

*LER POR PRASER: em que são trabalhadas as obras de literatura infantil e infanto-juvenil em prosa e verso com objetivo de fazer interpretações e desenvolver a sensibilidade literária. *LER PARA SE INFORMAR: são textos de fontes variadas, como jornais, revistas, enciclopédias, o livro do aluno e textos indicados pelo professor.*LER PARA ESTUDAR: o foco não deve ser apenas para avaliação, mas principalmente o registro, aquisição e construção do conhecimento. *LEITURA PRETEXTO: quando, o professor usa como recurso para produção de textos. Ex: fábulas, contos, desenhos, filmes, músicas, literatura de cordel e outros.

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